Hipólito, o Traficante

Já a noite vai a meio, devem ser praí umas 5 da tarde (malçuade gajo que inventou a hora de Inverno), e Hipólito vai caminhando na água porca do esgoto. Mais uma noite, mais um carregamento. Pobres agarradinhos. Cada vez é mais difícil arranjar uma dose suficiente. Hipólito é a única esperança dessa gente. O único que pode impedir horas de agonia num canto imundo. E faz uma fortuna. À custa do vício das pobres almas. Desde que emigrou de Alcobaça, que a sua vida é fornecer o alívio aos carenciados. Oh! Lá saltou uma ratazana para o seu braço, a dormência é tanta que já nem sente e enxota-a com um golpe seco. Se calhar já jantou algum parente seu. Come muitas vezes ratazanas. O dinheiro do tráfico fica todo na casa das prostitutas. Olha! Lá passou agora uma ministra da educação, esta não escapou. Levou logo um pontapé nos beiços. Chegou ao beco. Como cães esfomeados é rodeado de prisioneiros das toxinas.
-“Chefe, o que é que me arranja aí?”
-“O que tu quiseres ó ranço! Quanto dinheiro tens?”
-“Só tenho um talão de desconto na gasolina do Carrefour.”
-“Tás mal. Eu só vou ao E.Leclerc.”
A viagem continua. Quem tem dinheiro dos assaltos ou da prostituição pode reconfortar-se numa dose de produto. Quem não tem… Azar!
-“POR FAVOR…. PRECISO…. DÊ-ME…”
-“Ai tá com febrinha o menino? Coitadinho! Não há dinheirinho, não há supositóriozinho!”
Agonia! Mas a noite ainda só vai a meio. E lá vai o Hipólito com a sua carteirinha de supositórios ilegais. A assobiar o “Põe tua mão na mão do meu senhor”…

Arranhí Océrebroquandotavátirarummacaco

Arranhí Oescrotoquandoocoçavadesenfreadamente

Arranhí Semquereracrostadamalçuadaferida