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quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Literatura de Retrete

Cara malta, merda toda a gente faz; o mundo divide-se, por isso, naqueles que falam dela e nos que sobre ela não falam. E se há coisa que a história nos tem vindo a ensinar é que pôr as coisas em cima da mesa só ajuda; ajuda a conhecermo-nos melhor, a repararmos que não estamos sozinhos neste mundo ou até que fazer o cocó tem muito que se lhe diga.


Raros são aqueles que guardam memórias de quando eram novos e cagavam as fraldas, ou da primeira vez que fizeram no bacio. Poderá ter sido o nosso primeiro sucesso, mas normalmente as bravuras associadas á merda não são dignas de recordação, o que é uma pena. Depois crescemos, vem a adolescência e perante os nossos olhos começam a insurgir-se as primeiras beldades da escola, as mais giras e as mais boas. Eu e o meu grupo de amigos, especialmente dedicados a jogar à bola usando latas como postes e a falar de gajas criámos o mito de que as gajas boas não faziam cocó. Afinal, de cus tão belos não poderia nunca nascer uma coisa tão malcheirosa quanto o cocó. À medida que fui crescendo, fui descobrindo a total falsidade deste mito, e, ao mesmo tempo, a sua força e credibilidade: não só as gerações mais novas de adolescentes parvos continuam, pelo que sei, ainda a acreditar nisso, como vi que este mito não se limitou ao Parchal: em milhares de escolas por este país fora, talvez dezenas, muitos são os adolescentes que acreditam nisto mais do que em Cristo. Amen!


Depois da adversa aceitação deste mito, a minha observação recai sob a sociologia do acto de cagar. Há gente que enquanto caga lê (e a esmagadora maioria das preferências recai na Dica da Semana), ouve música, reza, manda SMS’s, escreve (e se a retrete for pública, aproveita para perpetuar a sua presença na terra com uma mensagem alusiva a si mesmo ou ao seu clube de futebol, ora com corrector – nunca de pincel – ora com esferográfica) ou simplesmente olha os objectos que o rodeiam, a fim de se concentrar para o trabalho que desempenha que, por vezes, se verifica árduo, conforme aquilo que come.

Inimigos desta vertente da sociologia há muitos. A própria língua portuguesa não aceita o verbo cagar e as suas conjugações, nem palavras como merda, poito, poia, raleira, caganeira, borreira ou a recém-inventada borraneira. Quando estive em Londres, ainda há pouco tempo, reparei que para cagar nos cubículos retretais públicos é preciso pagar. O sistema funciona como as máquinas de bebidas ou chocolates. Ora, na hora do aperto, quem é que tem pachorra para andar a enfiar trocos e a separar moedas? Para aliviar a tripa paga-se uma libra, mais que um euro. Duzentos paus para cagar! Realmente o custo de vida em Inglaterra não é para todas as carteiras. O frio invernal, que parece arrefecer as sanitas propositadamente, tornando custoso o acto da gente sentar a pele quentinha do cu, é um inimigo que não deve ser esquecido. Igualmente a tosse: não me alongarei muito sobre este particular, mas já algum de vós tentou cagar e tossir ao mesmo tempo? Mais do que um convite, é um desafio!


Mas neste mundo também há coisas bonitas de se dizer. Muitos foram os filósofos e poetas que se inspiraram aquando do acto de cagar. Manuel Maria Barbosa du Bucage é o português que escrevia os seus sonetos de cocras, arreando atrás das moitas do Palácio de São Bento. Eu mesmo dei à luz este texto sentado. Nunca ninguém precisou de musas sentado numa retrete. Posso também sublinhar os inúmeros nomes que se podem dar ao acto de cagar, tais como arrear o calhau, mandar um fax, escrever uma carta, ler uma revista, largar o pistão, afogar o Mantorras, libertar o prisioneiro, cumprimentar o Sr. Castanho ou até rezar um pai-nosso. E porque cagar é das poucas coisas que homens e mulheres fazem de igual maneira, porque não discutir este assunto para os unir, ao invés de os separar (eles dizendo que sabe bem, elas dizendo que é nojento…)?


E com isto me despeço, deixando ainda um soneto do mestre, Bocage, acerca deste tema tão ignorado injustamente. Até mais, saudações teatrais: muita merda para todos!


Vai cagar o mestiço e não vai só;

Convida a algum, que esteja no Gará,

E com as longas calças na mão já

Pede ao cafre canudo e tambió:


Destapa o banco, atira o seu fuscó,

Depois que ao liso cu assento dá,

Diz ao outro: "Oh amigo, como está

A Rita? O que é feito da Nhonhó?"


"Vieste do palmar? Foste a Pangin?

Não me darás notícias da Rossu,

Que desde o outro dia inda a não vi?"


Assim prossegue, e farto já de gu,

O branco, e respeitável canarim

Deita fora o cachimbo, e lava o cu.


Arranhí Ascostasefiqueicomgarronasunhas

3 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se pelo tema escolhido ou se por sugestão do mesmo, devo confessar que isto por aqui não me cheira nada bem!
Bem, tenho que ir ali a um lado...

Anónimo disse...

que post de merda

Flavia Macedo disse...

Sou brasileira e por aqui também cagamos, alem disso, também temos nossas expressões para o ato: Botar o Pelé na roda, botar os meninos para nadar, dar comida pro bocão, soltar o Mandela, ir aos pés (essa só quando a caganeira é braba), mandar um torpedo, apitar o Senegal, se desmanchar em merda... Espero ter contribuido culturalmente para o seu belissimo e poético texto.

Sem mais para o momento, subscrevo-me.

Flavia Macedo.